Na última semana, o Ministério da Cultura (MinC) divulgou os nomes que integram a Comissão Especial que irá escolher o filme represente do Brasil na disputa por uma vaga no Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2017. Entre os nove escolhidos, está o crítico Marcos Petrucelli, que criticou o filme “Aquarius” antes mesmo de assisti-lo e se manifestou como contrário ao posicionamento político do diretor Kleber Mendonça Filho.
Estrelado por Sonia Braga, “Aquarius” conquistou a atenção da crítica internacional ao concorrer ao Palma de Ouro no Festival de Cannes, um dos três maiores e mais tradicionais festivais de cinema do mundo. No tapete vermelho, Kleber Mendonça Filho e elenco do filme fizeram um protesto contra o impeachment da presidenta eleita Dilma Roussef, denunciando o golpe em curso no Brasil.
Definida a comissão do Oscar, com nomes indicados pelo secretário do Audiovisual Alfredo Bertini, o repórter Guilherme Genestreti escreveu a notícia de que o “crítico contrário a Kleber Mendonça Filho vai integrar comissão do Oscar“. Em resposta, Petrucelli escreveu um artigo em que tenta negar as observações feitas, ressaltando que seu posicionamento contrário a Kleber Mendonça Filho é de cunho político e contesta que “Aquarius” seja “candidato natural” à vaga.
Em uma tréplica, o repórter Genestreti voltou a falar, desta vez comentando a resposta do membro da comissão. Ele justifica a afirmação de que “Aquarius” deve ser considerado candidato natural à disputa e diz que o crítico usou o “espaço do jornal como arena para mais uma vez despejar ingênuos argumentos do Fla-Flu partidário”, faltando-lhe “argumentos cinematográficos”.
O que acha Kleber Mendonça Filho
Apesar da repercussão nas redes sociais e livre discussão via colunas da Folha, Kleber Mendonça Filho vinha se mantendo neutro diante à nomeação de Marcos Petrucelli à Comissão Especial. Em seu perfil do Facebook, o cineasta fez uma postagem em que escreveu: “Vou precisar me posicionar sobre essa questão que está borbulhando há mais de uma semana sobre a Comissão que escolhe o filme brasileiro do Oscar.”
E falou. Em entrevista ao The Intercept Brasil, Kleber falou sobre a polêmica e também deu sua opinião sobre o processo de impeachment e compartilhou suas expectativas para o lançamento do filme no Brasil. Após o protesto de Cannes, o ministro interino da Cultura Marcelo Calero criticou abertamente a atitude da equipe. O cineasta rebateu a crítica de Calero, lembrando que “isso faz parte do jogo democrático”.
Questionado sobre um possível “boicote” do MinC a “Aquarius” e fazer campanha contra o filme, disse achar cedo demais para se posicionar. “O que tenho em mãos é o fato de uma das pessoas da Comissão Especial responsável pela seleção, o crítico de cinema Marcos Petrucelli, desde o festival de Cannes, vir atacando de uma maneira muito raivosa não só ao filme, mas a mim e à equipe. Me parece algo completamente inadequado. Isso sim, é material para ser questionado”, falou.
Sobre a decisão do atual secretário do Audiovisual de convidar para integrar a comissão alguém que já vinha se manifestando abertamente contra seu filme, antes mesmo de assistir, Kleber avalia: “Me parece extremamente inadequado que essa pessoa que já vinha se posicionando publicamente seja especificamente convidada para compor a comissão de escolha do filme brasileiro que vai ao Oscar em 2016.”
Leia a entrevista na íntegra realizada pela repórter Helena Borges no site do The Intercept Brasil.