Quem já assistiu Copacabana Mon Amour (1970) provavelmente vai se lembrar de Sonia Silk, protagonista do longa interpretada pela atriz Helena Ignez. Talvez o que poucos saibam é que esse foi um dos sete filmes lendários produzidos pela Belair Filmes entre fevereiro e maio de 1970. A produtora brasileira, criada pelos cineastas Júlio Bressane e Rogério Sganzerla, nunca existiu no papel, mas fez o bastante para deixar sua marca na história do cinema brasileiro.

O Rio de Janeiro foi o cenário inspirador de ideias revolucionárias. Pela primeira vez, a favela foi filmada em cinemascope: suas cores e seu calor capturados sob uma perspectiva agressiva e de afronta transmitiam um posicionamento claro e firme diante da realidade. Não demorou para que a ditadura militar chegasse até a dupla de cineastas. Sob ameaças e perseguições, Sganzerla e Bressane foram obrigados a abandonar o cenário brasileiro e partiram rumo à Europa.

O espírito de efervescência e determinação da Belair inspirou uma nova geração de cineastas independentes. Entre eles estão Ricardo Pretti e Bruno Safadi, exponentes do cinema independente da atualidade, responsáveis pelo projeto Operação Sonia Silk, trilogia gravada no Rio de Janeiro que recupera o estilo de Sganzerla e Bressane.

A Operação

Maria Ximenes, Leandra Leal e Jiddu Pinheiro são protagonistas dos filmes O Uivo da Gata, de Safadi; O Rio Nos Pertence, de Pretti; e O Fim de Uma Era, de Safadi e Pretti. E os cineastas arriscaram logo na primeira tacada. A trilogia começa com o filme de Safadi, O Uivo da Gaita, que utiliza uma narrativa fragmentada, contemplativa e existencial para falar da rotina amorosa. Do documentário de Bressane, Safadi fez sua ficção: uma experiência contemplativa e inesperada, entre cores, movimentos e sons que criam uma atmosfera paralela, um tanto surreal.

A próxima obra é assinada por Pretti, que apresenta O Rio Nos Pertence — título que faz referência direta à Paris Nos Pertence, de Jacques Rivette, e também se apropria dos contos sombrios de Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft. Na trama, os sentimentos são os verdadeiros protagonistas. O trabalho é desenvolvido a partir do psicológico da personagem de Leandra Leal, que retorna ao Rio e reencontra a irmã e o ex-namorado. O diretor convida o espectador a uma viagem sensorial pelo estado de espírito onde a dor, culpa e angústia são motivadas por perdas e histórias inacabadas.

Finalizando a trilogia, O Fim de Uma Era. Com narrações de grandes nomes do cinema marginal, como Helena Ignez e Maria Gladys, o longa pode ser considerado uma ode “às musas”. Feito a partir dos dois longas anteriores (“um filme feito dentro dos outros filmes”), utiliza também o estilo contemplativo e não-convencional, investindo ainda mais em seu lado experimental, poético e sensorial. Novamente o amor entra na temática, mas dessa vez é um “outro tipo de amor, coisa que os românticos não entendem”: a saga para compreender a inexplicável experiência de amar e viver pelo e para o cinema.

Os três longas são uma coprodução do Canal Brasil e Teleimage; e O Uivo da Gaita e O Rio Nos Pertence foram finalizados com recursos enviados pelo Hubert Bals Fund (HBF), fundo de incentivo promovido pelo Festival Internacional de Cinema de Rotterdam, na Holanda. Confira os trailers: