Glauber Rocha escreveu um poema em que diz: “O teatro brasileiro é genial. A poesia brasileira é genial. A música brasileira é genial. O romance brasileiro é genial. A imprensa brasileira é genial. A pintura brasileira é genial. A crítica brasileira é genial. A televisão brasileira é genial. O cinema nacional é um abacaxi.”

Estas palavras foram escritas no contexto de um cinema nacional marginalizado e de autor, experimental por natureza e crítico por necessidade. Para sintetizar aquele momento do cinema brasileiro, Glauber utiliza o abacaxi: símbolo da tropicalidade, característico por sua acidez, único pelo seu sabor e por sua majestade certamente espinhosa.

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O cineasta símbolo do Cinema Novo hoje é referência para uma nova geração que deseja retomar o cinema de autor que um dia já foi símbolo da nossa produção. Esse é o objetivo do longa-metragem “Astracã”, dirigido por Victoria Vic, que deseja propor ao espectador uma verdade experiência audiovisual e sensorial.

O filme possui aspectos peculiares em termos de linguagem, desde sua estrutura metalinguística marcante dos realismos fantásticos, até o usos da fotografia, música original e desenho de som. O enredo por vezes submerge na camada sonora, estreitando a relação do áudio com o registro da imagem e traz à tona a discussão do cinema através de si.

O filme

Por mais de dois mil anos, existiu no Japão o ofício e tradição das amas, as caçadoras de pérolas. Em “Astracã”, pérolas extraordinárias, com uma pequena mutação, ressurgem num litoral do Atlântico Sul, onde vivem alguns músicos e comerciantes, cercados pelo mar, as dunas e o mangue.

São as mesmas pérolas que cem anos antes teriam levado à extinção a tradição dessas mulheres do mar e ao início das grandes fazendas de cultivo. O forte fascínio gerado por essas pérolas envolve um grupo de amigos nessa trama milenar, na qual um jovem beatnik, imune à cobiça, é chamado para levá-las de volta ao seu lugar de origem.

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Responsável pela obra, do argumento até a montagem e coordenação sonora, a diretora estreante Victoria Vic é responsável pela pulsão geradora de “Astracã”. Sempre encaminhando a equipe com uma série de referências, sugere uma visão de cinema em que as camadas se somam e conversam, numa busca narrativa complementar. O que se passa durante o tempo do filme é uma disputa, no melhor dos sentidos, entre a imagem como registro imparcial, e o som, sua perturbação.

Incentivo ao cinema independente 

A produção do filme, financiada inteiramente com recursos próprios, mobilizou o trabalho de dezenas de pessoas. A pré-produção e a captação das imagens reuniram o trabalho dos principais envolvidos de modo horizontal e coletivo. A partir daí, os porquês colocados e a força do material captado foram fundamentais para engajar a equipe técnica e os parceiros para as etapas seguintes.

Atualmente em pós-produção, o filme está passando por mixagem da trilha sonora original, tratamento de cor, desenho de som, animação, efeitos 3D, identidade visual, legendagem e DCP. Para as próximas etapas do projeto, a equipe lançou uma campanha de crowdfunding na Benfeitoria para financiar as próximas etapas do projeto.

O objetivo é atingir metas de arrecadação, destinadas para a finalização, pagamento da equipe, custos de festivais e distribuição. “A vida de um projeto cultural se efetiva no contato com as pessoas, por isso desenhamos uma estratégia adequada às características do filme buscando abrangência, capilaridade e circulação dirigida”, conta o produtor e roteirista Daniel Joppert.

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A primeira meta, destinada aos gastos da pós-produção, está em andamento na Benfeitoria até o dia 10 de outubro. Quem colabora, em troca recebe uma recompensa, que pode ser desde um agradecimento especial nos créditos do filme até a entrada garantida na pré-estreia, com acesso a materiais exclusivos.

A distribuição vai combinar participação em festivais selecionados no Brasil e exterior e exibição nas salas de cinema e ações de mobilização social em colaboração com a Taturana Mobi, acionando um circuito com mais de 3.000 exibidores em 400 municípios brasileiros, incluindo centros culturais, cineclubes, espaços de cultura, salas especiais, universidades entre outros.

O lançamento nos cinemas está previsto para o início do segundo semestre de 2017. Antes, será realizado mapeamento e ativação nacional de públicos sensíveis ao perfil de “Astracã”. Acompanhe o projeto também pelo Facebook ou pelo site astraca.me.

Colabore com o cinema brasileiro independente!