O ataque às intervenções urbanas na cidade de São Paulo é mais rotineiro do que se imagina. Na década de 1980, sob a administração do então prefeito Jânio Quadros, grafiteiros e pichadores sofreram forte repressão. Décadas depois, em 2008, o ex-prefeito Gilberto Kassab adotou uma política de “limpeza urbana”.

Na gestão de Kassab, uma área de quase 700 metros quadrados na Av. 23 de Maio (Viaduto Julio de Mesquita Filho) foi pintado de cinza com a autorização da lei Cidade Limpa. Artistas de renome internacional, como Osgemeos, Nunca, Nina, Vitché e Hebert Baglion, viram suas obras serem destruídas pelo poder público.

Menos de uma década depois, o passado se transformar em presente. O atual prefeito de São Paulo João Doria (PSDB) realiza a operação Cidade Linda, programa que é uma das principais bandeiras de sua gestão. Na mesma Av. 23 de Maio, com um spray em mãos, Doria pintou de cinza uma parede e declarou o início de uma “grande campanha contra os pichadores”.

Cineastas, artistas e estudantes discutem a grafitagem, o movimento da pichação e a arte urbana em diversas cidades do Brasil através de documentários que fazem um resgate histórico e sociocultural. Confira a seleção:

1 – Luz, Câmera, Pichação (2011), de Gustavo Coelho, Marcelo Guerra e Bruno Caetano

Pichação não é grafite. Essa máxima é defendida pelo documentário, o primeiro que conta apenas com a participação de pichadores (as), sem especialistas ou intelectuais. A fala é dada ao pichador, marginalizado, que compartilha suas formas de socialização, sucessos e fracassos, perdas e seus ganhos. O filme é focado especialmente na cultura da pichação no Rio de Janeiro, conhecida como Xarpi Carioca, e foi exibido na mostra “Art in the streets”, no Museum of Contemporary Arts (MoCA), em Los Angeles.

2 – Cidade Cinza (2013), de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo

Nas ruas de São Paulo nasceu uma nova forma de graffiti, na qual o hip hop americano foi substituído pela cultura regional brasileira. Rapidamente, as obras d’Osgemeos, Nunca e Nina se espalharam pelas ruas e depois pelas galerias do mundo. No entanto, uma nova lei de combate à poluição visual fez a prefeitura de São Paulo cobrir suas pinturas de cinza em 2008. Exibido no Festival É Tudo Verdade de 2016. Disponível no Vimeo, NOW e iTunes.

3 – Pixo (2009), de Roberto T. Oliveira e João Wainer

Exibido na 33ª edição da Mostra Internacional de Cinema, em São Paulo, o documentário fala sobre o impacto urbano e cultural provocado pelo movimento da pichação diretamente com seus autores.

4 – A Febre (2016), de João Oliveira

Enquanto “Pixo” apresenta a pichação na cidade de São Paulo, o documentário independente “A Febre” apresenta a realidade da manifestação do graffiti no Espírito Santo sob o ponto de vista de seus protagonistas.

5 – Contra a Parede (2015), de Gustavo Arakaki, João Marcelo Sanches e Thaís Lopes Pimenta

Pichadores e grafiteiros defendem suas formas de expressão, seja como arte ou protesto, e trazem um novo olhar sobre as motivações e consequências de seus trabalhos em Campo Grande (MS). O documentário faz um panorama das novas realidades da capital e a maneira que constrói o seu próprio conceito entre o vandalismo e a revolta, a depredação e o enriquecimento estético, legal e ilegal, “picho” e grafite.