Assistindo ao trailer da minissérie “Justiça”, pode-se ter a impressão de que tudo ali foi revelado. Os spoilers dos crimes e seus autores são revelados sem delongas. Um trailer intenso e de forte carga dramática tanto pode aumentar as expectativas quanto fazer acreditar que nada de novo virá. Mas quem espera não ser surpreendido logo no primeiro episódio muito se engana.  

Escrita por Manuela Dias, a minissérie de 20 capítulos apresenta quatro histórias paralelas de personagens que cometeram crimes. No primeiro episódio, o caso do assassinato de Isabela (Marina Ruy Barbosa) por seu noivo Vicente (Jesuíta Barbosa), que a flagra com o ex-namorado. A mãe de Isabela, Elisa (Debora Bloch) conserva por sete anos sua sede de fazer justiça com as próprias mãos.

O comportamento agressivo e o ciúme excessivo de Vicente, que vê Isabela não como parceira, mas como sua propriedade, introduzem a discussão do machismo e feminicídio no Brasil. A violência verbal e psicológica cometida por Vicente evolui para um crime físico, de extrema violência. Mais um caso de “crime passional” que se torna capa de jornal. Mais uma mulher que, independente de classe social, termina sua história virando uma estatística.

A liberdade sexual da mulher e dominação de seu próprio corpo também são brevemente discutidas em curtos diálogos, principalmente entre mãe e filha. A desigualdade social e divisão de classes é um assunto introduzido na cena em que Fátima (Adriana Esteves), pede permissão para sair mais cedo do trabalho para buscar seus filhos na escolha e recebe a recusa de Elisa. A história de Fátima será desenvolvida no segundo episódio.

Além de ter apresentado um roteiro bem estruturado, com histórias paralelas que se cruzam, a fotografia, assinada por Walter Carvalho, é outro fator que envolve o espectador. Walter Carvalho assinou a direção de fotografia de filmes brasileiros icônicos, como “Central do Brasil”, “Amarelo Manga”, “Abril Despedaçado”, “Madame Satã”, entre outros. Os personagens transmitem também a regionalidade em seu sotaque para enfatizar a ambientação na cidade do Recife, com destaque para a atuação intensa do pernambucano Jesuíta Barbosa. 

O que resta saber é se “Justiça” terá folego suficiente para prender o espectador até o vigésimo episódio. A expectativa é de se deparar com elementos surpresas, o improvável e plot twists, como sugere o primeiro capítulo da minissérie.