Na última terça-feira (26), foi publicada no Diário Oficial da União a exoneração da cúpula da Cinemateca Brasileira. A coordenadora-geral Olga Futemma e a equipe técnica foram demitidos sem comunicação prévia por decisão do Ministério da Cultura, sob o comando do ministro interino Marcelo Calero. No dia seguinte, Oswaldo Massaini Filho foi nomeado novo diretor da Cinemateca em São Paulo.

Após tentativas do governo interino de extinguir o Ministério da Cultura e recuar em sua decisão após a resposta popular, profissionais do audiovisual se manifestam contra as demissões na Cinemateca. Associações de cineastas, documentaristas, da indústria do audiovisual e de técnicos cinematográficos assinam uma nota destacando que se trata de “uma ação de caráter eminentemente político que atinge a Cinemateca com uma violência injustificável”.

Reiterando o protesto, também foi emitida uma carta direcionada a Marcelo Calero em que dizem: “Não ficaremos em silêncio diante do risco de comprometimento da instituição que preserva a memória das imagens que a nossa sociedade criou nos últimos 100 anos. Solicitamos ainda que este Ministério convoque em caráter de urgência o Conselho Superior de Cinema, órgão qualificado, legítimo e com representação paritária da Sociedade Civil e do Governo, para deliberar sobre questões atinentes à atividade”. (Leia na íntegra)

Um segundo manifesto foi divulgado ontem e já conta com mais de 1,9 mil assinaturas. O texto faz uma leitura histórica e evolutiva da Cinemateca Brasileira. “A maneira abrupta e arbitrária com que as demissões foram conduzidas no Ministério da Cultura (81 no total), atingindo órgãos e grupos de trabalho, revela um açodamento político não condizente com as práticas da administração pública democrática, de graves consequências culturais. Trará risco a acervos, programas, editais, projetos, atendimentos públicos diversificados”, destaca. (Leia na íntegra o Manifesto pela Cinemateca Brasileira)

Cinemateca Brasileira 

A Cinema Brasileira possui o maior acervo audiovisual relevante da América Latina e é o principal responsável pela preservação do audiovisual brasileiro. O museu, que já chegou a contar com mais de 150 funcionários, hoje mantém aproximadamente 30 servidores com contratos a expirar em dezembro deste ano.

O Manifesto pela Cinema Brasileira destaca também que “desenvolveu ao longo de 40 anos um laboratório de restauro, hoje reputado entre os três melhores do mundo, dispõe de reserva técnica climatizada, possui coleção documental única, instrumentos eficientes de difusão cultural, instalações invejáveis mesmo para as congêneres estrangeiras, enfim, tudo o que constitui um museu de ponta”.

No início deste ano, em fevereiro, um incêndio atingiu os arquivos da Cinemateca, destruindo cerca de mil rolos de filmes, de películas rodadas até 1950. Há três anos, um acordo com acordo com a ONG Sociedade Amigos da Cinemateca (SAC) foi suspenso por suspeita de irregularidades e desvio de verbas públicas. No entanto, as investigações não conseguiram provar os escândalos, que repercutiram internacionalmente, e colocaram a Cinemateca e a SAC entre desentendimentos político-administrativos.

Em nota, o MinC confirmou a exoneração de 81 funcionários comissionados. “As exonerações fazem parte da reestruturação da pasta e do plano de valorização dos servidores de carreira, anunciado pelo Ministro da Cultura, Marcelo Calero, por ocasião de sua posse”, diz a nota. Além de Olga, a Cinemateca perdeu outros integrantes da cúpula, entre eles Alexandre Myazito, do Centro de Documentação e Pesquisa; Adinael de Jesus, do Laboratório de Som e Imagem; Daniel Albano, de Planejamento e Administração; e Nacy Hitomi Korim, do Núcleo de Programação.

Escândalos

Em 2015, Olga assumiu a coordenação-geral da Cinemateca e trabalhou para recuperação da instituição. Ela é funcionária de carreira, tendo se dedicado à Cinemateca desde 1984, onde se aposentou em 2013. No entanto, o manifesto ressalta que seu sucessor anunciado “não é servidor público, nem atua no campo da cultura [especificamente] audiovisual. Pela primeira vez, a indicação de um coordenador-geral não partiu do Conselho Curador, violando prática adotada nos últimos 30 anos pelos sucessivos governos”.

Foi revelado que Oswaldo Massaini Filho, que é produtor de cinema, é réu em um processo de estelionato. Massaini trabalhava na corretora de valores SLW, que pertencia a Márcia Goldschmidt. O advogado disse que Márcia investiu cerca de R$ 200 mil na corretora entre 2001 e 2002, mas afirma que o dinheiro “evaporou”. Pelo crime, ele pode ser condenado por até cinco anos de reclusão, além de multa.