Nada melhor do que passar o Dia dos Namorados ao lado daquela pessoa que você ama, não é mesmo? Essa experiência de poder compartilhar amor com o próximo deveria ser tão simples e natural… Mas não no mundo real. Foi exatamente neste dia que o mundo foi noticiado com a tragédia em Orlando, na Flórida (EUA): um atentado a uma boate gay que deixou pelo menos 50 mortos e outras tantos feridos. Mais um exemplo da cultura do ódio, da homofobia e das violências que as pessoas LGBTTI estão sujeitas a enfrentar diariamente.
E você quer saber o que isso tem a ver com o Brasil? O que tem a ver com a cultura audiovisual brasileira?
A realidade que nos circunda e a leitura de uma certa “consciência social”, mais um pouco de drama, tramas e amores proibidos, são os bons ingredientes de uma boa novela, como bem sabem as noveleiras e noveleiros de plantão. Destacamos hoje Tieta (1989), estrelada por Betty Faria, obra inspirada no romance Tieta do Agreste (1977) de Jorge Amado, que também deu origem ao filme homônimo, em 1996, com Sônia Braga no papel de Tieta.
A história de Tieta reflete uma mulher que desafia os costumes conservadores de seu tempo e que enfrenta todas as amarras culturais e sociais que lhes são impostas. Tieta sai de casa ainda pequena brigada com o pai, que a violenta pela sua personalidade e seus atos “afrontosos”. A personagem volta anos depois muito rica e poderosa para o interior baiano, onde defende e enfrenta todos os preconceitos e opressões de pessoas que se preocupam mais com a “moral e os bons costumes” do que viver uma vida livre, plena e feliz, sem prejudicar ninguém.
O que Tieta nos ensina e por que é tão atual uma personagem de décadas atrás?
É possível aprendermos muita coisa com Tieta, principalmente sobre a emancipação feminina. Entretanto, o enfoque a ser dado aqui é como ela conseguiu entender a si mesma, encarar todos os obstáculos e voltar forte para superar os preconceitos. Uma pessoa à frente de seu tempo, que respeitava a vida, o amor e a liberdade. Talvez precisemos de uma Tieta para ensinar alguma coisa ao século XXI…
Bem, em pleno 2016, vivenciamos hoje no país uma disseminação do preconceito aos gays, lésbicas, pessoas trans e intergêneros. Isso ocorre às vezes pela falta de conhecimento, mas, na maioria dos casos, é reflexo de uma sociedade incapaz de ver o amor se manifestando das mais diversas formas (qualquer maneira de amor vale a pena, qualquer maneira de amor vale amar, como diz a música Paula e Bebeto).
Fatos como a tragédia de Orlando, nos fazem (ou deveriam fazer) pensar sobre o espaço crescente do discurso de ódio a pessoas desse grupo no Brasil. O preconceito mata! Segundo dados do Grupo Gay da Bahia, a cada 27 horas um crime de ódio acontecia no Brasil em 2015: 52% gays, 37% travestis , 16% lésbicas , 10% bissexuais, somando 318 assassinatos – sem contar com as agressões não fatais.
A pergunta que fica é o que desperta em um ser humano tamanha violência que o faz capaz de matar porque determinado ser humano ama outro ser humano? De verdade é difícil de compreender! Abaixo, confira a cena em que Tieta faz um grandioso discurso contra a homofobia e o preconceito: