O governo interino de Michel Temer não poupa esforços para atacar a classe artística e intelectual brasileira. A perseguição contra “Aquarius”, filme dirigido por Kleber Mendonça Filho e estrelado por Sonia Braga, se intensifica cada vez mais. O longa, que concorreu ao Palma de Ouro em Cannes e foi consagrado pela crítica internacional, estreia no Brasil no dia 1º de setembro e hoje depara-se com a surpresa: classificação indicativa de 18 anos.

Segundo o Ministério da Justiça, o filme tem “situação sexual complexa”. Mas, como foi avaliada tal complexidade? Em 2001, “Bruna Surfistinha”, um filme sobre uma prostituta, com consumo explícito de cocaína, sexo a três, entre outros detalhes, estreou nas principais salas de cinema do país. Em 2015, foi a vez do norte-americano “50 tons de cinza”, com cenas de sexo quase explícito e sadomasoquismo. Classificação indicativa: 16 anos.

Como bem destacou o Jornalistas Livres no Facebook, conseguiram enxergar uma “situação sexual complexa” em “14 segundos de sexo pagando apenas peitinho e uma senhora de 60 anos fumando um ‘baseado'”. É fácil comprovar que um capítulo de uma novela da Rede Globo tenha mais cenas inapropriadas do que as 2h20 de “Aquarius”. Piores ainda são os programas policialescos, que se disfarçam de “jornalismo” para lucrar em cima da morte e do sangue. 

Com um disfarce de classificação indicativa, o governo interino arma um movimento de ataque para diminuir o impacto do filme no Brasil e tenta inferiorizar sua relevância em um momento histórico para o cinema e para a sociedade brasileira. Abominam a equipe de “Aquarius” por terem feito um filme que faz refletir e por terem o levado aos maiores festivais de cinema do mundo, como Sydney, Austrália, Lima, Peru, Cannes e Nova York.

Querem incentivar o “boicote Aquarius”, que surgiu no tapete vermelho de Cannes, quando a equipe se posicionou politicamente para o mundo em um momento de incertezas e instabilidades em seu País. O plano é reforçado pela escolha da Comissão Especial do Oscar. Entre os membros está Marcos Petrucelli, que criticou o filme antes mesmo de assisti-lo e fez ataques pessoais a Kleber Mendonça Filho por discordar do posicionamento político do diretor.

Este é um bom momento para relembrar também da tentativa de desmonte da Cinemateca Brasileira. Não admita a censura ao cinema brasileiro ou a qualquer forma de expressão. Manifeste-se contra ações anti-democráticas que querem ditar o posicionamento político de uma nação. Não se cale diante da tentativa de censurar a formação de um pensamento crítico. “Aquarius” denuncia tudo aquilo que não querem que seja visto.

ATUALIZAÇÃO:

O diretor pernambucano Gabriel Mascaro, diretor de “Boi Neon”, retirou sua candidatura à comissão brasileira que indica o representante nacional ao Oscar 2017. A decisão vem em protesto à indicação de Marcos Petrucelli à Comissão Especial do Oscar e também ao ataque ao filme de Kleber Mendonça Filho. A título de comparação, “Boi Neon”, que possui cenas de sexo intensas e polêmicas, foi lançado nos cinemas brasileiros com a classificação indicativa de 16 anos. Anna Muylaert também demonstrou interesse de retirar o seu filme “Mãe só há uma”, enquanto dois membros da comissão divulgaram sua saída.