Recife, classe média e um cotidiano (sur)real. Esse resumido perfil descreve bem a obra de Kleber Mendonça Filho, vencedor do Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2019 por Bacurau, terceiro longa de sua carreira e codirigido por Juliano Dornelles. Essa foi a segunda indicação do cineasta à premiação principal do festival. Em 2016, concorreu à Palma de Ouro com Aquarius, filme protagonizado por Sonia Braga. KMF estreou na direção de longas de ficção em 2012 com O Som ao Redor, um dos filmes pernambucanos mais premiados na história do cinema brasileiro pós-Retomada.
A produção cinematográfica de KMF começa no final dos anos 1990 com uma sequência de curtas-metragens. Além das três ficções e o documentário Crítico, o cineasta dirigiu sete curtas-metragens que misturam lendas urbanas, análises sociais, um toque de surrealismo e crítica. Tudo isso, é claro, sem esquecer a ligação quase umbilical com sua cidade natal. “Assim como Woody Allen, Martin Scorsese e Spike Lee são sempre associados a Nova York, eu quero ser associado ao Recife”, destacou KMF em entrevista.
A filmografia do diretor pernambucano foi tema do Moviecast, o podcast da Revista Moviement, e contou com a participação do Assiste Brasil. Para acompanhar a discussão, assista abaixo curtas-metragens do cineasta que estão disponíveis na íntegra para acesso gratuito:
Enjaulado, 1997
“Minha própria versão de Repulsion, de Roman Polanski, mas com um homem no lugar da mulher e a paranoia da classe média brasileira no lugar do sexo… Meu primeiro curta de ‘ficção’, feito em Betacam, alguns anos antes do digital chegar. Influências de Argento e Carpenter são quase um abuso. Charles (Hodges) é o one man show“, escreveu o próprio diretor.
A Menina do Algodão, 2003
“Uma homenagem a pesadelos da infância. A Menina do Algodão era uma garotinha morta que estaria rondando os banheiros escolares dos anos 70, suas narinas entupidas com pedacinhos de algodão”, escreve na sinopse. Dirigido em parceria com o cineasta Daniel Bandeira.
Vinil Verde, 2004
Mãe dá a Filha uma caixa com disquinhos coloridos de músicas infantis. Filha pode ouvir os disquinhos, exceto o disquinho verde. O curta é uma livre adaptação de uma fábula russa. Ganhou os prêmios de Melhor Diretor, Montagem, Som e o Prêmio da Crítica no Festival de Brasília de 2004. Também foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores de 2005, em Cannes.
Eletrodoméstica, 2005
A sinopse é curta e específica: “Classe Média. Brazil, anos 90. A 220 volts”. Kleber Mendonça Filho escreveu o roteiro em 1994, mas o filme foi feito 10 anos depois, em 2004. Gravado em 35mm.
Noite de Sexta Manhã de Sábado, 2006
“Homem encontra mulher”. Sucinta sinopse, mas será apenas isso?
Recife Frio, 2009
O curta-metragem brasileiro mais premiado desde Ilha das Flores (1989), de Jorge Furtado. Recife Frio é um falso documentário sobre mudança climática na tropical capital pernambucana que, inexplicavelmente, passa a ser fria. Isso gera mudanças no comportamento da população e em toda uma cultura que sempre viveu em clima quente. O filme também foi disponibilizado com legendas em inglês no Vimeo.
A Copa do Mundo no Recife, 2014
O mais recente curta-metragem é um documentário sobre a Copa do Mundo no Brasil, especificamente em Recife. A produção foi realizada a convite da Casa de Cinema de Porto Alegre para o SportTV e integra uma série de registros do evento. “Vejo esse filme de 15 minutos como uma cápsula do tempo para o futuro. Na verdade, 6 anos depois, o Brasil já parece muito diferente. E aquele 7 X 1 realmente foi o início de todo esse mau agouro”, escreve o diretor.