Retratar a vida e a obra de figuras icônicas da cultura nacional não é tarefa fácil. Certamente ela se torna ainda mais complicada quando envolve o nome de Elis Regina. Por sua intensidade como artista e mulher, a personagem ganha mais força que sua própria história.

Em “Elis”, a trajetória da artista começa a ser retratada a partir de sua chegada ao Rio de Janeiro, ainda adolescente, e se encerra com sua trágica e prematura morte. O diretor Hugo Prata, que também assina o roteiro ao lado de Vera Egito e Luiz Bolognesi, faz da cinebiografia uma mostra de fatos da vida de Elis Regina.

De maneira pontual e pouco intensa, a narrativa traz poucos detalhes sobre a ascensão de Elis quanto artista e pouco enfatiza o seu papel na criação da MPB em plena ditadura militar. Momentos marcantes, como o envolvimento com a censura e seu reconhecimento internacional, são apresentados sem demais explicações. As cenas não conseguem desenvolver os acontecimentos por completo antes que sejam substituídos por novos conflitos particulares.

A intensidade da vida de Elis Regina pode ter sido um desafio para o roteiro, mas sem dúvidas foi um elemento determinante na entrega de Andréia Horta ao papel. De braços abertos e com um sorriso largo, a protagonista relembra a “Pimentinha” em movimentos naturais, mas milimetricamente reproduzidos. A atuação da protagonista é hipnotizante e por vezes exagerada. Esse excesso,entretanto, não é um ponto negativo. Afinal, o exagero estava na personalidade da própria Elis Regina.

“Elis” procura traçar um retrato humanizado de uma das maiores intérpretes brasileiras, mas não consegue transmitir no roteiro o equilíbrio entre os fatos pessoais e profissionais da personagem. Quem busca na cinebiografia um resgate da carreira musical da artista pode se decepcionar, mas certamente não irá se arrepender de lembrar ou conhecer marcantes e históricas canções.