O cinema nacional de gênero experimenta um de seus momentos mais prósperos. Entre 2009 e 2017, 14 longas brasileiros de horror – o que representa 1,42% da produção nacional do período – foram lançados em circuito comercial, segundo dados do Observatório Brasileiro do Cinema e do Audiovisual (OCA). Este ano, entretanto, ocorre uma “virada de enredo”: entre lançamentos e estreias previstas, somam-se sete filmes brasileiros do gênero.

Só no mês de outubro, chegaram às salas de cinema cinco títulos: O clube dos canibais, Histórias estranhas, A noite amarela, Intruso e Morto não fala. Este último, vale destacar, foi apontado pelo Vulture como um dos melhores filmes de 2019, ao lado de Jordan Peele e Gaspar Noé, e adquirido pela plataforma de streaming Shudder.

Em uma riquíssima entrevista concedida à Galileu, o crítico e pesquisador Carlos Primati destaca a transição entre os anos 2000 e 2010 como marco de uma nova geração de cineastas interessadas/os no gênero. “Podemos atribuir parte desse fenômeno ao fato de ser uma geração de jovens realizadores, cineastas iniciantes afinados com o novo cinema, e com um vastíssimo repertório à disposição. […] A beleza do horror brasileiro é não se preocupar em imitar – e o resultado deu muito certo”, afirma.

Para conhecer essa diversificada e autoral produção, que dialoga com o suspense, o thriller, o fantástico e até mesmo com a comédia, o documentário e o musical, ultrapassando barreiras e desconstruindo o próprio gênero, o Assiste Brasil selecionou alguns filmes contemporâneos que atraíram os olhares da crítica e do público.

A noite amarela, de Ramon Porto Mota (2019, PB)

Concluintes do ensino médio, um grupo de amigos viaja até uma casa de praia situada em uma pequena ilha do nordeste brasileiro. Na medida em que o tempo passa, as brincadeiras e festas são gradativamente interrompidas pela sensação de que aquele lugar abriga um horror insondável. O filme passou pelo Festival de Rotterdam, IndieLisboa, Olhar de Cinema, CineBH, entre outros. Ramon Porto Mota recebeu o prêmio de melhor direção no Brooklyn Horror Film Festival, em Nova York.

O animal cordial, de Gabriela Amaral Almeida (2018, SP)

Um restaurante de classe média em São Paulo é invadido, no fim do expediente, por dois ladrões armados. O dono do estabelecimento, o cozinheiro, uma garçonete e três clientes são rendidos. Entre a cruz e a espada, Inácio (Murilo Benício) – o homem pacato, o chefe amistoso e cordial – precisa agir para defender seu restaurante e seus clientes dos assaltantes.​

Intruso, de Paulo Fontenelle (2016, SP)

Uma família é obrigada a receber em casa um visitante e sua chegada exige que certas regras sejam seguidas. Os membros da família que quebram as regras são punidos. O filme, que equilibra drama e suspense psicológico, percorreu em festivais em 2016 e chega aos cinemas comerciais nesta quinta-feira (31).

O clube dos canibais, de Guto Parente (2019, CE)

Otavio (Tavinho Teixeira) e Gilda (Ana Luiza Rios) são da elite brasileira e cultivam o hábito de (literalmente) comer seus funcionários. Quando Gilda acidentalmente descobre um segredo de Borges (Pedro Domingues), um poderoso congressista e líder do secreto Clube dos Canibais, ela acaba colocando sua vida e a de seu marido em perigo.

Morto não fala, de Dennison Ramalho (2018, RS)

Stênio (Daniel Oliveira) é plantonista noturno de um necrotério e possui um dom paranormal de se comunicar com os mortos. Uma das confidências que ouve revela segredos de sua própria vida, o personagem desencadeia uma maldição que traz perigo e morte para perto de si e de sua família. O filme, que apresenta cenas de fantasmas e possessão, teve boa receptividade no exterior – com o título de The nightshifter – e estreou em streaming em países como Estados Unidos, Austrália e Alemanha.

A sombra do pai, de Gabriela Amaral Almeida (2019, SP)

O filme conta a história de um pai e uma filha que não conseguem se comunicar. Órfã de mãe, Dalva (9 anos) vê o seu pai, o pedreiro Jorge, ser consumido pela tristeza após perder o melhor amigo. Dalva acredita ter poderes sobrenaturais e ser capaz de trazer a mãe de volta à vida. À medida que Jorge se torna mais ausente – e eventualmente perigoso –, resta a Dalva a esperança de que sim, sua mãe há de voltar.​ O filme recebeu três prêmios no 51º Festival de Brasília.

Sinfonia da necrópole, de Juliana Rojas (2014, SP)

Uma comédia musical com toques de suspense e terror. Dessa mistura de gêneros, nasce Sinfonia da necrópole, filme acompanha o aprendiz de coveiro Deodato (Eduardo Gomes) que tem sua rotina transformada pela chegada de uma nova funcionária (Luciana Paes) ao cemitério. Juntos, eles devem fazer o recadastramento dos túmulos abandonados, mas estranhos eventos fazem o aprendiz questionar as implicações em se mexer com os mortos. O longa recebeu o prêmio de melhor filme da crítica no 47º Festival de Gramado.

O nó do diabo, de Ramon Porto Mota, Jhésus Tribuzi, Gabriel Martins e Ian Abé (2018, PB)

“Cinco contos de horror. Uma fazenda tomada por horrores há mais de 200 anos. Cinco encontros com a morte. Um nó que não se desata”. Cada parte do filme é nomeada pelo ano em que a história se desdobra: 2018, 1987, 1921, 1871 e, por último, 1818. No elenco, nomes como Zezé Mota, Isabél Zuaa, Fernando Teixeira e Everaldo Pontes.

Trabalhar cansa, de Juliana Rojas e Marco Dutra (2011, SP)

Exibido na mostra Um Certo Olhar do Festival de Cannes em 2011, o filme retrata os acontecimentos surreais que assustam uma mulher (Helena Albergaria) e seu marido (Marat Descartes) no supermercado que acabaram de comprar.

O lobo atrás da porta, de Fernando Coimbra (2013, SP)

Numa delegacia, um homem (Milhem Cortaz), sua esposa (Fabíula Nascimento) e a amante dele (Leandra Leal) são interrogados. Arrancados pacientemente pelo detetive (Juliano Cazarré), um após o outro, seus depoimentos vão tecendo uma trama de amor passional, obsessão e mentiras que levará a um final completamente inesperado. O filme, que mescla suspense e thriller, foi premiado nos festivais do Rio, Havana, San Sebastián e esteve na seleção oficial do Festival de Toronto.

Mormaço, de Marina Meliande (2019, RJ)

Drama social e cinema fantástico encontram conexões nesse filme que ainda acrescenta cenas documentais à sua narrativa. Mormaço é um exemplo da nova safra de produções autorais que se apropriam do cinema de gênero ao tempo em que não se permite limitações formais. A trama se passa no Rio de Janeiro, em 2016, à vésperas dos Jogos Olímpicos. Ana (Marina Provenzzano), defensora pública, trabalha na defesa de uma comunidade ameaçada de remoção e, enquanto isso, tem sua saúde fragilizada por misteriosas manchas roxas que surgem em seu corpo.

Quando eu era vivo, de Marco Dutra (2014, SP)

Com um elenco tanto que inesperado, que coloca em cena Antônio Fagundes e Sandy, a história de Quando eu era vivo se desenvolve a partir de uma estranha obsessão pelo passado de sua família cultivada pelo personagem Júnior (Marat Descartes), provocando um choque de delírio e realidade.

A mata negra, de Rodrigo Aragão (2018, ES)

O universo folclórico e o regionalismo são as marcas de A mata negra. A história se passa no interior do Brasil, quando a jovem Clara (Carol Aragão) encontra o Livro Perdido do Cipriano que, na cultura popular, é o guia de rituais de ocultismo, publicado originalmente no final do século 19. Ao ter em mãos uma obra de poderes desconhecidos, abre-se o pretexto para consequências paranormais e amaldiçoadas.

As boas maneiras, de Juliana Rojas e Marco Dutra (2018, SP)

O segundo trabalho realizado pela dupla de diretores dialoga com o cinema fantástico. Na trama, Ana (Marjorie Estiano) contrata Clara (Isabél Zuaa), uma solitária enfermeira moradora da periferia de São Paulo, para ser babá de seu filho ainda não nascido. Conforme a gravidez vai avançando, Ana começa a apresentar comportamentos cada vez mais estranhos.

Mate-me por favor, de Anita Rocha da Silveira (2015, RJ)

Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. Uma onda de assassinatos invade o bairro. O que começa como uma curiosidade mórbida se apodera cada vez mais da vida dos jovens habitantes. Entre eles, Bia (Valentina Herszage), uma garota de 15 anos. Após um encontro com a morte, ela fará de tudo para ter a certeza de que está viva.

O juízo, de Andrucha Waddington (2019, SP)

Com roteiro de Fernanda Torres, trazendo Fernanda Montenegro e Criolo no elenco, o longa teve sua primeira exibição na 43ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. A história narra a situação vivida por Augusto, Tereza e Marinho, filho do casal, quando se mudam para uma fazenda herdada da família. A propriedade, no entanto, carrega o carma da traição ao escravo Couraça, que busca ao longo dos séculos a vingança contra a família escravocrata. O filme estreia em circuito comercial no dia 12 de dezembro.