Uma comissão de profissionais de cinema no Brasil, entre diretores, roteiristas, atores, produtores, professores, lançaram um manifesto a favor da democracia brasileira e contra o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Até a publicação desta matéria, o texto reunia mais de 3,2 mil assinaturas, entre as quais estão Wagner Moura, Anna Muylaert, Kleber Mendonça Filho, Marina Person, Jorge Furtado, Karim Ainouz, Alê Abreu, Petra Costa e Gregório Duvivier.

O manifesto repudia as “arbitrariedades promovidas por setores da Justiça, dos quais espera-se equilíbrio e apartidarismo”, destacando que tais atitudes colocam em risco “a convivência, o respeito à diferença e a paz social”. Através do texto, divulgado nas redes sociais, pretende-se alertar a comunidade internacional do audiovisual sobre o momento político vivido no Brasil.

Ao contrário do que muitos podem pensar, o manifesto não assume um posicionamento partidário. Os signatários expressam preferências políticas distintas, no entanto, todos estão de acordo que é possível se apropriar de instrumentos legais para “impedir um retrocesso em nossa frágil democracia”.

LEIA NA ÍNTEGRA O MANIFESTO CINEMA E AUDIOVISUAL PELA DEMOCRACIA:

Nós, cineastas, roteiristas, atores, produtores, distribuidores, críticos, professores, pesquisadores e técnicos do audiovisual brasileiro, nos manifestamos para defender a democracia ameaçada pela tentativa de impeachment da Presidenta Dilma Rousseff. Entendemos que nossa jovem democracia, duramente reconquistada após a ditadura militar, é o maior patrimônio de nossa sociedade. Sem ela, não teríamos obtido os avanços sociais, econômicos e culturais das últimas décadas. Sem ela, não haveria liberdade para expressarmos nossas distintas convicções, pensamentos e ideologias. Sem ela, não poderíamos denunciar o muito que falta para o país ser uma nação socialmente mais justa. Por isso, nos colocamos em alerta diante do grave momento que ora atravessamos, pois só a democracia plena garante a liberdade sem a qual nenhum povo pode se desenvolver e construir um mundo melhor.

Como nutrimos diferentes preferências políticas ou partidárias, o que nos une aqui é a defesa da democracia e da legalidade, que deve ser igual para todos. Somos frontalmente contra qualquer forma de corrupção e aplaudimos o esforço para eliminar práticas corruptas em todos os níveis das relações profissionais, empresariais e pessoais.
Nesse sentido, denunciamos aqui o risco iminente da interrupção da ordem democrática pela imposição de um impeachment sem base jurídica e provas concretas, levado a cabo por um Congresso contaminado por políticos comprovadamente corruptos ou sob forte suspeição, a começar pelo presidente da casa, o deputado federal Eduardo Cunha.

Manifestamos a nossa indignação diante das arbitrariedades promovidas por setores da Justiça, dos quais espera-se equilíbrio e apartidarismo. Da mesma forma, expressamos indignação diante de meios de comunicação que fomentam o açodamento ideológico e criminalizam a política. Estas atitudes colocam em xeque a convivência, o respeito à diferença e a paz social.

Repudiamos a deturpação das funções do Ministério Público, com a violação sistemática de garantias individuais, prisões preventivas, conduções coercitivas, delações premiadas forçadas, grampos e vazamentos de conversas íntimas, reconhecidas como ilegais por membros do próprio STF. Repudiamos a contaminação da justiça pela política, quando esta desequilibra sua balança a favor de partidos ou interesses de classes ou grupos sociais.

Nos posicionamos firmemente a favor do estado de direito e do respeito à Constituição Brasileira de 1988. Somos contrários à irracionalidade, ao ódio de classe e à intolerância.

Como construtores de narrativas, estamos atentos à manipulação de notícias e irresponsável divulgação de escutas ilegais pelos concessionários das redes de comunicação.

Televisões, revistas e jornais, formadores de opinião, criaram uma obra distorcida, colaborando para aumentar a crise que o país atravessa, insuflando a sociedade e alimentando a ideia do impeachment com o objetivo de devolver o poder a seus aliados. Tal agenda envolve desqualificar as empresas nacionais estratégicas, entre as quais se insere a emergente indústria do audiovisual.

Por todos esses motivos, nos sentimos no dever de denunciar essa enganosa narrativa e de alertar nossos pares do audiovisual em outros países sobre este assombroso momento que vivemos.

Usaremos todos os instrumentos legais à nossa disposição para impedir um retrocesso em nossa frágil democracia.

Para conferir a lista atualizada e assinar o manifesto, clique aqui.